quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Acronia

Caminhas distante
A falta de sorriso
È o que me faz criar

Quem iria se permitir?
O que me agrada é o desvio
O contentamento quando me vê

Finalmente sorri
Inquietantemente feliz
Desconcertas e reconstrói

Firme, não me deixa passar
Ainda bem...
Mais firme ainda,
Não me deixa fugir

Saltos, rodopios
Leves, certeiros
Atinges, redundante, o escape

Traz para si o que quer
É tão natural
Não há espantos

Derrubas certezas, previsões
Carpe diem...
Que se vá!

Agora é comigo
Desafiaste-me
Pois bem

Horas lutando
Contra a torrente do rio
Enxaquecas teóricas

Passados, presentes, futuros
Processos, acontecimentos, durações
Ínfimo real

Caminhos retóricos
Descortinam-se
Desfaço o tempo!

Carpe diem, noctum, eternum
Alethéia

Pedro Guimarães Pimentel

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sem título

Passo o tempo tentando entender
O que não se explica pela razão
Se meus sentidos soubessem falar

Coração, co-razão

Ordeno cada enlace das letras
Esperando que se professem os verbos
Emudeço a todo instante

Coração, co-razão

Aguardava que pudesse classificar
O que expande, treme, envolve
Desta feita não há o que ler

Coração, co-razão

Só compreendo quando uno
Sinto a conjunção que contempla
Assim entendo, assim entendes

Coração, co-razão

Superada a dialética
Desencorajada a problemática
Apresenta-se a solucionática

Coração, co-razão

Por fim, não nomeio
Temo que não abarque os significados
Que se crie um novo conceito

Coração, co-razão

Pedro Guimarães Pimentel

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Verbo Sentir

Só digo que há
Que não se esconde
Só digo que sinto

Só digo que há
Mas não me pergunte o nome
Só digo que vejo

Só digo que há
Mas não sei onde
Só digo que ouço

Mas não sei quando
Nem digo que penso

Não sei porquê
Nem digo que temo

Só dizes que há
Mas não sabe pra que
Só dizes que sente

Só digo que há
E que não tem pra que
Só digo que vivo
Só dizes que vives

Pedro Guimarães Pimentel

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Revolução

Quando o meu peito se escondia
De uma dor, de uma paixão
A cada passo, a cada dia
É que se fazia
A anarquia no meu coração

Pobre de mim, eu nem sabia
Que fantasia, é viver num mundo cão
Hoje ando à revelia
Da tirania
Que decretou a solidão

Esse estranho sentimento
Que rebelou meu coração
É um doce acalento
De liberdade
Que diz mais sim do que não

Revoltado pensamento
Hoje não vive de ilusão
Gasto todo orçamento
Da felicidade
E vivo intenso essa emoção

Pedro Guimarães Pimentel

domingo, 24 de maio de 2009

Novidade

Agora posso dizer que te gosto
Sem medo de que correrá
Pode dizer que não quer
Sem que me afunde em lágrima

O nosso caso começa hoje, aposto
Antes que a Lua esvazie, entenderá
Que o bem que a companhia nos fizer
Levará o vento toda lástima

Verás o sorriso em meu rosto
Cada Sol de teus olhos brilhará
E, bem intenso, cada momento que vier
Trará consigo uma nova rima (máxima)

Agora posso dizer que te gosto
O nosso caso começa hoje, aposto
Verás o sorriso em meu rosto

Sem medo de que correrá
Antes que a Lua esvazie, entenderá
Cada Sol de teus olhos, brilhará

Pode dizer que não quer
Que o bem que a companhia nos fizer
E, bem intenso, cada momento que vier

Sem que me afunde em lágrima
Levará o vento toda lástima
Trará consigo uma nova rima (máxima)

Pedro Guimarães Pimentel

sábado, 23 de maio de 2009

Fim

Te avisto ao longe, vens em minha direção. Aproxima-se lentamente com os mesmos olhos, mas agora seu olhar é outro, é frio, seu calor por mim já merece lápide. Chega até mim e tremo, fico inerte, não existem mais palavras de afago, apenas despejas o seu desapego e eu, pasmado, aceito por omissão todos os seus grunhidos e rancores verbalizados.
Descrente, percebo que tens extensas lembranças de nosso enlace, no entanto nossos momentos de glória se perderam no fio do tempo e da morte do que um dia se pretendeu chamar de amor. Lembras de todos os meus tropeços e das palavras malditas, de minhas mesmicies e manias, de todas as formas que encontrei de ser jovem e relapso. Já não te recordas de tudo o que dei a ti e que ofereci a nós Desatando os nós das diferenças eu te quis á minha presença e me pus a tua disposição. Me cobras por todos os nãos, dos sins não fazes questão.
Segue-se a resenha. Já nem escuto mais o que falas, me atenho a procurar em ti o que antes via claramente e que, agora, me escapa a qualquer indício de existência. Suas últimas palavras são prolixas, creio que fora a parte que ensaiaste menos. Balbucias um adeus desconexo, me oferece a visão de suas costas e se afasta velozmente, como um cão com medo do dono malvado. Sua imagem vai me escapando, fica cada vez mais longe assim como meu apego por ti. Vou te fitando com os olhos até que, pelo espaço de um instante, me distraio com o frescor do vento e o canto solene de um pássaro que assistiu toda a trama. Volto meus olhos para a calçada mas já não te avisto. Viraste a esquina, sumiste da minha vista, da minha vida enfim...Fim.

Leonardo Monteiro Ferreira

sábado, 16 de maio de 2009

Texto solto

Esperando que valha á pena ser quem somos, esquecemos que nem mesmo somos quem pensamos. E se queremos ser melhores do que nos vemos, então nem mesmo a melhora é garantida. Posto que tudo é convenção, nada é fácil e nem certo. Muito menos se pode estar sempre alerta. A meta muda de acordo com o humor, e o valor das etapas pode ser elevado á décima potência hoje e zerar amanhã. E, antes que eu me esqueça, não pensemos nós que tudo faz sentido no futuro ou dia a dia. Com grande melancolia percebi que talvez tudo seja em vão, talvez não mas, por via das dúvidas, procure outras coisas que te façam passar alguns instantes menos medíocres.
Somos tantos e tão iguais nesse mundo absurdo. A vida poderia ser um cinema mudo, as palavras sempre se repetem. Bastaria ver as imagens para entender a realidade cíclica das coisas. Não sei se a ideia era essa desde sempre, mas parece cada vez mais que a tendência é que nos tornemos repetições em série de uma mesma massa inerte e insólita. E eu, arrogante e inocente, me sentia diferente de tudo e todos. Um ser anacronico ou surreal, dotado de uma capacidade, até desleal, de me ver alheio ás relações humanas patéticas de sempre. Mas deveras sou como todos os outros e, agora, recolho-me a minha insignificância e me junto ao coro. Já não canto em outro tom, não crio minhas próprias canções e, quem diria, até acho certa graça de minhas próprias e coletivas perversões diárias.

Leonardo Monteiro Ferreira

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mundo Mal-amado

Em troca da possibilidade de conhecer um outro, esperamos que o "estar por vir" se encaixe num modelo pré-conceituosamente fabricado que deve inflar-se de príncipios e valores, nem sempre correspondidos. O ser alheio-humano é deixado de lado em prol das desmedidas instituições flutuantes.

Privilegia-se o contato com instituições que supostamente pairam sobre nossas cabeças em detrimento da relação direta com o ser semelhante humano. Quando, em verdade, sabemos que nada paira sobre nós. Não há nada silenciado nas coisas, não há mão oculta. Quando não há Providência, Previdência, evidências.

A hipocrisia do cotidiano se desfaz no culto a violência. Convive-se impacientemente "desapercebido" o "laissez-faire" da agressõa alheia, calcado na justiça divina, no reino prometido, na vitimização do eu. Convive-se tranquilamente com o paradoxo da pregação de um mundo mais justo e o discernimento entre os escolhidos e os indesejáveis.

A destreza do "deixar-passar" se equivoca quando a possível próxima vítima se aproxima o suficiente até atingir o eu. Assim se promulga a agressão defensiva. Assim se prolonga a covardia da força. A coerção pelo medo físico. Assim fascinam as transfigurações virtuais da realidade. Assim se alimenta de violência a realidade destroçada.

Pedro Guimarães Pimentel

sábado, 9 de maio de 2009

Melhor Assim

Ainda que encontrasse
Desenhado em outra face
Prezas pela distância

Pena que a vida é curta
Lá, ninguém te furta
Lá ninguém te alcança

Eu mudo o meu jeito
Perco todo o conceito
Não quero mais ser igual

Mesmo que sinta minha partida
Farei de toda a minha vida
Enfim, um grande Carnaval

Pedro Guimarães Pimentel

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sem mais

Escrever poesia quando se está feliz é um esforço inútil pra mim. Gostaria até, por vezes, de ver beleza em rimas leves, singelas e pálidas, mas são tão piegas que chegam a me ofender. Será que nasci pra admirar a dureza, a melancolia e a inteligência?
Que meus pares me perdoem mas versos serenos são massantes. Não me entendam mal, não gosto de sofrer e nem de ver o martírio dos outros. Só não espero que suspirem os apaixonados á minha pena e muito menos me acrescentam os elogios superficiais. De mais a mais, sou um poeta limitado, meus talento e esforço não equivalem a grande monta e, antes que alguém se dê conta, digo logo que minha poesia é previsível. Quem me lê sabe o que sinto, ou pelo menos o que a minha capacidade mediana de escrever e a sua, talvez maior, de ler façam por onde desvendar os meus caminhos.
Peço perdão aos que agrido com minha arte, também aos que decepciono por não ser tão bom quanto esperavam e, aos idiotas de toda parte, deixo um conselho:
Leiam os meus precários versos sem tanta exigência. Não se sintam atacados pois não é de vocês que falo e, se quiserem, se identifiquem com eles. Afinal, é para isso que serve um texto...para lermos até encontrarmos uma interpretação dele que nos sirva de álibi, punição ou redenção.
Sem mais.

Leonardo Monteiro Ferreira

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sonho dos deuses

A minha alma se esconde
Desse mundo de possibilidades
Que desafiam as minhas verdades
E supõe um novo horizonte

As facetas estampadas no querer
O transtorno que sempre me afronta
É um temor que chega a doer
Do que nunca levei em conta

Vejo a vida e seu sorriso amarelo
É cinza, torpe, dura...
E, do alto do meu castelo
Me foge a mortalidade impura

Sinto falta do que não tenho
Do que critico, desdenho
Da realidade pifia dos mortais
Que tem sonhos que parecem tão reais

Em meus devaneios piso o chão
Estou sujo, cansado e feliz
Não sou mais aquele que diz
Que duvida, que parte do não

Leonardo Monteiro Ferreira

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cântico dos Sentimentos Modernos

Cantem corações sofridos
Os realismos da dor
Pessimismos se tornam
Negações do otimismo do amor

Cantem corações fingidos
Os pessimismos do amor
Otimismos entornam
Pregações do realismo da dor

Cantem corações fechados
Os pessimismos da dor
Realismos contornam
Distorções do otimismo do amor

Desencantem corações abertos
Dos otimismos do amor
Pessimismos controlam
Atuações do realismo da dor

Cantem corações espertos
Os otimismos do amor
Realismos destronam
Reinações do pessimismo da dor

Pedro Guimarães Pimentel

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ponto sem nó

A culpa é minha quando planejo
Pois o timão escapa ao meu manejo
Me perco em meus planos
Revelo todos os meus segredos
Então fujo para o meu degredo
Pelos crimes profanos

Desta vez eu minto
Não pelo que sinto
Mas abandono o navio num banco de areia
Este ponto irá sem nó
Navegará só
Arrumo outro barco, sigo o canto da sereia

Quem vive de piratear
Quase nunca encontra o que pilhar
Mas, afinal, aceito meu destino
Minha nau esta vaga para a tripulação
E esta metáfora que canta meu coração
Se esbraveja num melancólico hino

Ô marinheiro, marinheiro!
... marinheiro só.

Pedro Guimarães Pimentel

Epitáfios

Hoje tecerei uma prece
Àqueles que quiseram tanto
E com tamanha força a quem não merece.
Triste face do desencanto.

Uma ode aos idiotas de toda parte
De gêneros e razões diversas
Que, incrivelmente, se consideram mártires
Distintos desbravadores, reis ou mascates
Poetas!

Cantemos a todos nós,
Perdidos nesse emaranhado de cores
Vendo mais cinza os amores
Errando os passos ao tentar ver beleza
Negando a vida, com pouca delicadeza

Não perderão a pose nem por um instante
Chorarão escondidos, sozinhos
Assim como o navegador errante
Sonhando com o retorno de seus caminhos

Todos se foram, sumiram
Vazios de significado partiram...

Os epitáfios ensanguentados
Datados a revelia destes pobres diabos
Aqueles que em vida foram anjos tortos
Guiados por amores igualmente mortos


Leonardo Monteiro Ferreira

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Silogismo dos Mares

Perguntasse a qualquer infante
Da prudente Lusitânia, e
De pronto exclamaria aos ventos:
Navegar é preciso!

Tempos Sagrados em que
Prezava-se a espontaneidade
Singrar os arredios mares
Era empresa, à qual se disporiam
Astutos aventureiros
Meticulosos, inveterados!

Hoje, surpreendo, ainda
Os que desconhecem as silhuetas do português
Pois se afirmava da mesma maneira
Com grande afinco:
Viver não é preciso!

Ora, não ousaria arriscar
Minha pseudo-intelectualidade
A exclamar doutas infâmias
Pois de tudo que se reservam estas linhas
Provém a incalculada sabedoria

E com o aval desta singular
Discrepância que permite abusos
Diversos do recôndito senso
Comum, exclamo aos corações:

Desenganados com a racionalidade
Da vida que concluída
Num breve silogismo:
Amar não é preciso!

Pedro Guimarães Pimentel

Os caminhos para o mesmo fim

Maneiras de viver distintas
Nesse caos da existência
Ao que atribuo sentido ainda
Com limitados talento e vivência

Os traços fortes da morena
E a serenidade do seu sorriso
O que tento decifrar à pena
É a mistura de um querer prolixo

Por tantas vezes, com ou sem razão
Se pode querer em doses cavalares
Amar, sofrer e pedir perdão.
Aquecer o frio de palavras e olhares

O que chora, o que faz chorar ou sai ileso
São todos faces da mesma moeda
Desde os que pisam sem sentir o peso,
Os que,pisados, se mantém à sela
Até os que praticam o desapego

Somos todos limitados em nossa retórica
O homem apaixonado é uma anedota
Isso, de fato, é uma verdade histórica
Há muitas formas de ser idiota.

Leonardo Monteiro Ferreira

terça-feira, 14 de abril de 2009

Não posso mais pecar

Terno e apreciável
Sorriso inigualável
Inevitável não sorrir também
Retidão inabalável
Sensação de estar bem

Sorrio diferente
Como quem deve
Esconde, mente.
Minha presença breve
Apaga, acende,
Apaga, ascende.

Desculpas não adiantam
Deixam-me em pranto
Pouco esforço,
Devia mais
Tanto, tanto,
Santo canto.

Não peço mais
Não peco mais
O que quero faz
O que passou lá atrás
É quase nada
De minha parte, vacilada
Destoada, desenganada.

Da tua, não sei medir
Não sei dizer, mas sei fingir
Que entendo, que o que quer
È esperar eu lhe pedir
Aguardar eu me mover
Sem pestanejar, vou lhe dizer
Já não sei o que fazer

O teu sorriso persiste
O meu insiste em disfarçar
O querer e não estar lá
Já não posso mais pedir
Já não posso mais pecar

Mas, não entenda mal
Gostei, ainda gosto
Teu sorriso, teu beijo
Concluo. Não, aposto!
Não tem igual
Este é meu desejo,
Este teu ensejo.

Pedro Guimarães Pimentel

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Água, vinho e cerveja

Ao que julgo, pois não entendo
Quando sorri do que não vejo glória
Me pergunto o que está fazendo
Não enxergo sua vitória

Assim como me sinto frio
Não me comove quando lamenta
De sua vida de cão vadio
E da má sorte que sempre ostenta

Noite após noite vai aonde quer
E eu me esqueço de ser seu amigo
Não perde o sono por uma mulher
Por vezes o invejo, em outras duvido.

É o amigo que me afronta
Quando desdenha da minha verdade
Sempre o ataco com arrogância
E me responde com vaidade

Te guardo comigo, apesar de negar
Estamos juntos onde quer que seja
Já que água e vinho não se pode misturar
Brindemos à vida irmão, com cerveja!

Leonardo Monteiro Ferreira

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Cinzeiro

Para você, meu camarada
Uma paixão até se encolhe
Mas não pense que não sobra nada
Resta uma cinza, por onde quer que olhe

Enquanto queima, tudo se consome
Erra os passos, perde a hora
Se alguém lhe pergunta, sem demora
Troca até de sobrenome

Mesmo sem vibrar uma chama
Da brasa que um dia
Ardia por aquela dama
Persiste levemente
Uma cinza descontente

Ai de quem duvidar
Pois limpo nenhum coração
Da mais sutíl paixão
Jamais se econtrará

Acumulando paixões
Despejando desilusões
Este seu fiel companheiro
O mais antigo dos cinzeiros

Pedro Guimarães Pimentel

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ao amigo

Eu tenho um amigo que imagina como seria
se tudo diferente fosse
Ele não sabe, mas deveria,
que merece mais do que um sorriso doce.

Um amigo que vacila ao comparar
E, mesmo encantado, ainda teme
Quando se surpreende ao sonhar
E ver que de sua vida tem o leme.

Te desejo o maior dos amores
E é por ser como eu que clamo
Não caia em desengano
Não apague o perfume das flores

Esqueça o passado, não tens o direito
de negar ao mundo a sua verdade
Teu coração puro não cabe no peito
Nós não terminamos, tenha a bondade.
Quero ver-te forte, livre, refeito.

Enxugue esse rosto que já passa da hora
E essas lembranças que fiquem guardadas
Já disse mil vezes, sem você não vou embora
Enxergue além dessa chuva de mágoas.

Leonardo Monteiro

quinta-feira, 26 de março de 2009

Oportunidade

Não preciso mais ser aquele que escondia
O meu desejo quando você sorria
Hoje penso que devia ser assim
Pois se uma coisa fortalece nossa amizade
É um beijo bem dado, com vontade
Ao som de um samba, bem juntinho de mim

Se eu pudesse olhar de fora
Perceberia o que não via até agora
Teu sorriso engraçado e sedutor
Meu sorriso disfarçado com temor
De perder, o que não ganhei aquela hora
Mas hoje digo, suplicante de fervor

Beije-me antes que não sambemos juntos
Sambe, antes que se perca num segundo
A vida é longa pra quem não a quer
Ando apressado pra te ter mulher!

Oh céus! De saber já me contento
Mas e se não tivermos tempo?
Então repito devagar
Para que fique bem ciente
Estou aqui, estou presente
O samba já vai começar

Beije-me...

Pedro Guimarães Pimentel

Apelo

Escrever nunca foi tão difícil quanto agora
Minha rima sempre corrente, porém marcada
Hoje tento fugir do estilo de outrora
tirando o fardo da pena, que já não quero pesada

Mas o que dizer sem um punhal no peito?
Sem meus versos de sangue e lamento
Sem o tormento vago de minhas ilusões perdidas
Ou tudo o que julgava belo, sensato, intenso...
Será que existe poeta sem feridas?

Antes eu teimava em sangrar pela morena
Selar com pranto cada composição
Destilar toda minha mágoa em poema
Mas a maldita dor se foi, falar de que então?

Ó Senhor, não permita que eu me cale
Me arranque outro dom, seja qual for
Meus olhos, que eu não veja a luz do dia
Que eu tenha, na leveza, inspiração e cor
Mas que a felicidade não me roube a poesia.

Leonardo Monteiro Ferreira

quarta-feira, 18 de março de 2009

Malandro Arrependido

No começo tudo brilhava, doce maravilha
Encantavas minha vida vã
Eu te amo, tu me amas, como manda a cartilha...
Era o diabo com hálito de hortelã.

Com o fervor dos tolos, vago ao léu
Olhando pro céu, no fel, seus lábios de mel
Escondeste teus espinhos que feriram corações
Cada pedra tropeçada, um rosário de perdões.

Me fizeste acreditar que tudo podia ser alegre
Enfeitavas meu caminho com suas ilusões
Seu desprezo me doeu como uma ardente febre
Mentiras deslavadas, fetiches, esporões.

Minha poesia, minhas rimas, meu escrever prolixo
Tudo que fizeste por mim, agora deixo pro lixo.
As mágoas que me deixou no peito... Oh! "santa"!
Seu perfume, seu costume, nada mais me encanta.

Lá se foi o boêmio da vila constituir família...
Acabou-se um pai solteiro de filhos de uma mãe vadia
Mas volto hoje, de bom grado à malandragem
Coragem, me meto de novo em felizes vadiagens!

Arranjei uma cabrocha pra cuidar de meus rebentos
E na Lapa me desvio de amores ciumentos
Saio de casa, sem casa pra voltar
Velho botequim de esquina, meu lar doce lar

Minha bebida, meu cigarro, minha sina, meu cantar
Meu andar leve, flutuante, sem jamais escorregar
Não nego que deveras ainda penso na maldita
Mas malandro que é malandro não dispensa uma partida!


Leonardo Monteiro / Pedro Guimarães

quinta-feira, 12 de março de 2009

Cuspe e marmelada (Leve desprezo)

Hoje cantaremos uma ode à palhaçada
Remetendo-se àquelas feridas abertas
Vamos curar com cuspe e marmelada
E de nossas mazelas daremos risadas!

Prendam senhores, aquela que corre
Roubou sua própria felicidade
A cada dia que se esconde, morre
E se furta da sorte de encontrar a verdade

Quem sabe na cadeia ela encontra
Um homem safado que lhe dê conta
Que dos bons cismou em se esconder
Então peça a Deus para com o diabo não se meter

Seis meses de prisão para a fugitiva!

Falemos da louca que temos a vista
Gritando, mata formiga sem deixar pista.
Nem Freud, nem a ciência explicam!
Pobre das bichinhas, se nem ao menos a picam!

Acharam Urânio 119 em sua maquiagem
Se converso com ela, meu cérebro se confunde
Abro minha boca, mas só sai bobagem...
Criatura incoerente, que a minha cabeça funde!

Despejem na lixeira tóxica, mulher radioativa!

Surgindo na penumbra ela vem a passos leves
Colombina gatuna que derrama seu veneno
Faces doces, meigas, mas ela tem outras, espere!
Ainda mostro sua cara pra esse mundo pequeno

Seu conto de fadas não se esgota
Agora arrumou um pra servir de idiota!
Pra quem disse que sempre foi fria
Conseguiu maquiar o amor, quem diria?

Vaias para a atuação da mascarada!

No Rio ela é dengue, na Europa peste de ratos
No Brasil é Botafogo e nos EUA, o presidente
Na Bíblia, Apocalipse, o fim evidente!
A defunta simplesmente, sem adendos ou relatos

Isto é o que te cabe pelo seu desprezo
'É a terra que queria ver dividida'
Tudo o que espero agora, sem peso
É ver-te longe, feliz ou não! Decida.

Exílio para a desgraçada!

De coração, não há mágoa.
Desejo para a fugitiva, a liberdade
À mascarada, um bom teatro na cidade
Meu carinho num rio perene desagua!

Pois eu logo de cara não me faço de rogado
Ao contrário de meu caro amigo
Das duas pestilentas eu não quero nem recado
Pois que chovam canivetes, já não sirvo de abrigo!

Pedro Guimarães Pimentel / Leonardo Monteiro Ferreira

quinta-feira, 5 de março de 2009

Recomeço

Saí de casa cedo e quis voltar pouco depois
Mas da vida até a morte só se pode andar pra frente
Demorei pra ver beleza na distância entre nós dois
Precisando o que ganhei, o que perdi, inutilmente.

Odiei-te pra não te esquecer, equivoco tolo
Pra não te apagar da mente, te perverti com ira
Quis na sua mediocridade encontrar consolo
Não choro mais por ti e, agora sim, se retira.

Não te relevo, redimo ou perdoo
Mas quanto menor fores não me farás maior
Jogo-te ao vento, ao relento... enfim, vá!
Não te quero o melhor nem o pior
Já não me enterro contigo, empresto a pá.

Ontem acordei e vi a luz de um novo dia
O sol se abriu, a vida voltou a rimar
Quem me vê, quem me via, quem diria?
Rindo de novo da vida, mesmo sem te amar.

Ainda não estou pulando de alegria
Nem vendo a vida em cores, cantarolando
Mas estou ganhando aos poucos o que antes esquecia
Meus amigos, minhas paixões. Agora sei por onde ando.
E, apesar de você, ainda amo. Veja só que doce ironia!

Leonardo Monteiro Ferreira

Cara à tapa

Pus-me a prova do teu juízo
Agora, em trova, não é a sentença que friso
Para quem disse que não preciso
Derramo um inebriante sorriso

Entrego uma face, esbofeteie
Entrego a outra, já não há motivo
Arrisque! Por mais que receie
Estou aqui, passei pelo crivo

Ora, se reclamo não é à toa
Do fundo do meu peito
Um belo canto ressoa
Invade a correnteza
Penetra no teu leito

Pensar em ti me dá certeza
Que por uma pessoa boa
Vale a pena o esforço, que
Com jeito, é que tenho feito

Se quiseres, estarei aqui
Ofereço o simples e intenso
Efeito de acariciar
Efeito de valorizar
Ao teu dispor estou propenso

Mas sei levar um não
Sigo o caminho de prontidão
Mesmo que um pouco tristonho
Pois esquecer-te será enfadonho
Mas meu jeito é sempre risonho

Pedro Guimarães Pimentel

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Chega um momento na vida de um homem que o Carnaval não tem fim...

Chega um momento na vida de um homem que as palavras ficam mais curtas, que não se consegue fingir. Que ele pensa muito e pouco age, que ele planeja muito e teme o final de contas.

Chega um momento na vida de um homem, que o sorriso de uma “menina” ignora a incapacidade dos olhos deste homem de enxergá-lo. E emana um brilho tão forte, mas tão forte que as pálpebras não são capazes de impedir a penetração desta luz.

Chega um momento na vida de um homem que o carnaval não tem fim.

Que aquela folia esbanjada nos blocos muda do estado de felicidade externa para a interna, pois o coração vive uma festa; que provoca uma sensação tão inesperada que não consegue, por este homem, ser interpretada, ou compreendida simplesmente.

Chega um momento na vida de um homem que uma garagem vira abrigo de canções pouco louváveis. Mas também vira um ninho de amor durante parte de uma noite. Que fará o carnaval não ter seu fim.

Chega um momento na vida de um homem que na multidão não se enxerga cor.

Porque lá, a “menina” está tão colorida, que acaba inibindo a graça de tudo e todos e; apenas se pode contemplar, por estes olhos masculinos angustiados pelo desejo o vestido amarelo, a pele branca com sardinhas, o esmalte vermelho. E aquela luz forte que sai do sorriso desta “menina” que só faz iluminar toda escuridão provocada pela arrogância e da falta de amor deste homem.

Chega um momento na vida de um homem que ele não entende, mas é beneficiado pela dádiva do poder da sabedoria. Afinal, enxergar as cores do amor em meio à multidão o proporcionou sentir o que de mais puro já pôde ser contemplado por este homem...

Contudo...

Chega um momento na vida de um homem que ele decide tocar esta luz que não pode ser vista de tão forte. Mas que pode ser sentida. Que é angustiante, mas gostosa. Que começou sem mais sem menos e não terminou porque o carnaval não tem fim. Pelo menos não para este homem, apaixonado, encantado, pasmo, abobalhado pelo sentimento por aquela “menina”.

Chega um momento na vida de um homem que ele precisa seguir em frente. E percebe que o carnaval para ele não vai ter fim. E a “menina” que ergueu este homem à qualidade de portador de um sentimento tão nobre, com suas mãos frias e intensas o diz para voltar.

Porque o carnaval para ela não terá fim.

Então ele se apronta para ir embora, e não vê a hora de voltar para a “menina” que fez com que seu carnaval não tivesse fim.

Peter Sana

Vá logo

Quando o ferro-velho passar
Quando a campainha soar
Vou despejar nosso amor
Entre, eu saio de cena
Já nem sinto mais pena
Teu sorriso perdeu a cor

Desde já agradeço!
Teu sumiço teu tropeço
Peço, de hoje em diante,
Vá! Atire sua lança
Onde estou, já não alcança.
Quero te ver bem distante

Nunca precisou de mim
Então pra que me fez sofrer assim?
Não tive coragem de magoar
Mas céus! Quanto desdém
Tu não vales um vintém
Então, vou sem pressa desabafar.

Ai de ti se quiseres meu beijo.
Com todas as forças eu pelejo
Para que nunca mais sorrias ao me ver
Já mandei você embora
Se não me engano já faz três horas
Minha decisão não há de reverter

Pedro Guimarães Pimentel

Ingrata

Função ingrata essa de ser poeta
Da dor de parto da criação
Minhas tristezas à pena, uma seta
Um dia sem rima, escuridão.

A inspiração que me ilumina
Vem da mesma dor que me consome
Sofrer, escrever, minha sina
Bênção maldita, insone.

E divagando morro um pouco
Sinto pois corta, feri, dói.
Escrevo com o prazer de estar louco
Vivo e morro do que o amor destrói.

Dias e noites à espera dos versos
As vezes me pergunto se existe um porque.
São todos vadios, perversos
Escrevendo, vivendo, morrendo, sendo e não sendo. O que?

Ó lástima cruel, insana, vã.
Que gozo estranho e distinto que me dá
Não quero viver um novo amor amanhã
Mas se me faltar à pena, a ideia. Assim será.

Leonardo Monteiro Ferreira

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Se ti penso

Se ti penso sei per me
il sole in una giornata di pioggia
sei un improvviso moto
di allegria in una pausa di riflessione
sei un allegro carnevale che fa
sorridere di gioia il mio cuore
sei una risata felice, sincera e limpida.
E' per questo che amorevolmente ti penso.

Stefan Lopes

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Clube dos Mal-Amados

Uma meta, vários caminhos,
Figuras de traços marcantes
Rebuliço de pudores daninhos
Pensados, planejados, torturantes.

Cada qual com seus motivos
Nada que nos junte nem nos afaste
Suficiente, essa conjunção de sorrisos,
Esconde sutilmente, antes que se alastre.

Tão bem desenhadas nossas desculpas
Não reconheço, ainda que pudesse, que quisesse,
Não mereço, não me merece.
O fulgaz ardor do desapego paga, assim, a sua multa.

Este que se engana, agora esgana
Do fim para o começo nada mais valeu
O passado vivido... será que ela percebeu?
Baixeza, disfarce, mulher sacana.

Com grande hombridade de si mesmo
Não repetirá os erros, a esmo.
Que assim seja, que Deus te proteja,
Não me alimento de amor, talvez cerveja.

Volto-me agora para os que esperam
Que suas vidas sejam infinitas (como o Universo)
Verso a verso, suas felicidades proliferam
Distâncias seguras, benditas!

Errantes, beligerantes, destoantes.
Distantes cantantes amantes.
Tardes chuvosas entediantes.
No futuro, o amor será como antes,
Dela existir.

Mas não existe, resiste, persiste.
Buscar, errar, lamentar.
Fogem da ameaça, desgraça, pirraça.
Mas não escapam do encontro com o espelho,
A se destruir

Todas as metas, sem nenhum caminho,
Desfigurados, destroçados.
É os que nos torna, é assim que se forma,
O clube dos mal-amados.

Pedro Guimarães Pimentel

Imparcial

Quem já sofreu por um amor incoerente
Vê seus sentidos se confundirem com a dor
Mas não percebem, não há amor diferente
E não concebem uma vida sem amor

Falamos do infinito como se fosse tão simples
Olhamos para o fim como quem diz: - Nada valeu!
Esperamos das pessoas um pouco mais do que fetiches
Culpamos muita gente se alguém não mereceu

E dentro da minha lógica viciada e imprecisa
Já não me surpreendo se assusto quem a lê
E com sabedoria você diz: - Relativiza!
Mas relativizando eu não vou me convencer

Com um tanto de arrogância, de desdém mas é assim
Defendo com talento a ideia que foi minha
Talvez não seja bom, pode ser até ruim
Mas poeta imparcial não escreve uma linha

Leonardo Monteiro Ferreira

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Domingo

Eu não te entendo quando tento.
Eu não te amo porque quero.
Eu só te sinto como o vento.
A brisa do mar que sempre espero.

E nesses dias tão cinzentos,
Em que estou só e o tempo pára.
Tudo é tão vago e tão extenso.
Verdade simples, coisa rara.

Não estou triste, só cansado.
Você não é tudo, agora eu sei
Não tenha pena nem cuidado
Eu não menti, eu não fugi, eu não roubei.

Te vejo mais, mas não enxergo
O que havia antigamente
Com olhos novos, não tão cegos,
Agora sei olhar pra frente.

Leonardo Monteiro Ferreira

Tentativa frustrada

(Nem) Um amor em que ser reconhece (ia)
(Des) Esperado como uma prece
(Anti) Doto pra quem merecia

(Contra) Rio do qual tudo floresce (ia)
(In) Animada a beleza que aparece
(Des) Tacada a flor macia

(Não) Torna a palavra que resplandece (ia)
(Des) Caminhos sinuosos que o destino tece
(In) Pedidos (,) largados... ninguém policia

(Contra) Quem disse que não acontece (ia)?
(Com) Paixões filosofais alguém esquece,
(Des) Cobertas de toda folia? (!)

(A) Normal sono, já quase amanhece (ia)
(Contra) Atada a pena que já desfalece
(De) Termino outro dia

(Des) Continuar (ia)

Pedro Guimarães Pimentel