sábado, 16 de maio de 2009

Texto solto

Esperando que valha á pena ser quem somos, esquecemos que nem mesmo somos quem pensamos. E se queremos ser melhores do que nos vemos, então nem mesmo a melhora é garantida. Posto que tudo é convenção, nada é fácil e nem certo. Muito menos se pode estar sempre alerta. A meta muda de acordo com o humor, e o valor das etapas pode ser elevado á décima potência hoje e zerar amanhã. E, antes que eu me esqueça, não pensemos nós que tudo faz sentido no futuro ou dia a dia. Com grande melancolia percebi que talvez tudo seja em vão, talvez não mas, por via das dúvidas, procure outras coisas que te façam passar alguns instantes menos medíocres.
Somos tantos e tão iguais nesse mundo absurdo. A vida poderia ser um cinema mudo, as palavras sempre se repetem. Bastaria ver as imagens para entender a realidade cíclica das coisas. Não sei se a ideia era essa desde sempre, mas parece cada vez mais que a tendência é que nos tornemos repetições em série de uma mesma massa inerte e insólita. E eu, arrogante e inocente, me sentia diferente de tudo e todos. Um ser anacronico ou surreal, dotado de uma capacidade, até desleal, de me ver alheio ás relações humanas patéticas de sempre. Mas deveras sou como todos os outros e, agora, recolho-me a minha insignificância e me junto ao coro. Já não canto em outro tom, não crio minhas próprias canções e, quem diria, até acho certa graça de minhas próprias e coletivas perversões diárias.

Leonardo Monteiro Ferreira

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mundo Mal-amado

Em troca da possibilidade de conhecer um outro, esperamos que o "estar por vir" se encaixe num modelo pré-conceituosamente fabricado que deve inflar-se de príncipios e valores, nem sempre correspondidos. O ser alheio-humano é deixado de lado em prol das desmedidas instituições flutuantes.

Privilegia-se o contato com instituições que supostamente pairam sobre nossas cabeças em detrimento da relação direta com o ser semelhante humano. Quando, em verdade, sabemos que nada paira sobre nós. Não há nada silenciado nas coisas, não há mão oculta. Quando não há Providência, Previdência, evidências.

A hipocrisia do cotidiano se desfaz no culto a violência. Convive-se impacientemente "desapercebido" o "laissez-faire" da agressõa alheia, calcado na justiça divina, no reino prometido, na vitimização do eu. Convive-se tranquilamente com o paradoxo da pregação de um mundo mais justo e o discernimento entre os escolhidos e os indesejáveis.

A destreza do "deixar-passar" se equivoca quando a possível próxima vítima se aproxima o suficiente até atingir o eu. Assim se promulga a agressão defensiva. Assim se prolonga a covardia da força. A coerção pelo medo físico. Assim fascinam as transfigurações virtuais da realidade. Assim se alimenta de violência a realidade destroçada.

Pedro Guimarães Pimentel